Aquela era uma cidade pequena, do tipo que tem duas inscrições na mesma
placa: “Seja bem vindo” e “Volte sempre”. O povo sem ter o que fazer cuidava da vida
um do outro, afinal nada mais sensato do que olhar as mazelas alheias.
As comadres se encontravam na
pracinha e tudo era motivo de “oração” (tendo em vista que o povo da dita
cidade era muito religioso).
Dona
Futrica falava para as outras mulheres: --- Irmãs precisamos orar por fulano para ele parar de beber, bateu na
mulher; ela o traiu com o Seu João e está devendo na venda do seu Manoel.
Outra respondia: ---
Nossa foi com o João é?? Pensei
que tinha sido com o Tião. Ainda bem que estamos aqui para interceder
por eles, antes “irmã” nos conte
todaaaaa a situação!!
Na pracinha os homens aposentados
também se encontravam e jogavam dama, já as comadres enquanto “oravam” jogavam
LEVA E TRAZ , um joguinho desenvolvido e praticado sistematicamente por elas.
O problema central na cidade era
o ócio, porém as comadres ocupavam seu tempo jogando LEVA E TRAZ; neste jogo
as regras eram complicadas, porque o intento do mesmo era gerar confusão,
fazendo com que a adversária nunca fosse entendida e também nunca pudesse se
explicar, afinal para que simplificar se tem como complicar?!?!
O jogo partia do seguinte pressuposto :
“Quem conta um conto, aumenta um
ponto”
Como era uma cidade muito
pequena e pouco desenvolvida a falta de luz era constante, nestes momentos
sobrava serviço, o ócio acabava e os JOGOS eram
interrompidos.
Aos homens neste período cabia a execução
do “serviço com a PÁ”.
A cidade que dava um leve sinal de
desenvolvimento, quando a luz acabava usavam a força do braço no lugar das
máquinas, enquanto trabalhavam de “pá em punho” conversavam:
--- Vocês viram o que foi falado
na reunião?? --- Eu vi, mas não é “PÁ” mim.
--- “PÁ” mim também não, é “PÁ”
ele.
E
assim era. Tome “PÁ” pra lá e “Pá” pra lá Tb ; nunca era “Pá
MIM”.
No
caso das comadres, quando interrompido o jogo “LEVA E TRAZ” , o trabalho que
lhes cabia era na LAVANDERIA DA DONA FUTRICA.
Sem Luz cada uma pegava sua esfregadeira, também em uma boa trouxa de roupa; até a luz voltar e o jogo
retornar.
Retornando ao Jogo
perguntavam:
--- Onde mesmo paramos a prosa,
Futrica?
Respondia ela:
--- Isso importa ?
“...Seis coisas o SENHOR aborrece,
e a sétima a sua alma abomina:
olhos altivos, língua
mentirosa, mãos que derramam sangue inocente,
coração que trama projetos
iníquos, pés que se apressam a correr para o mal,
testemunha falsa que profere mentiras e
o que semeia contendas entre irmãos...”
Pv 6:16-19